quarta-feira, 17 de outubro de 2007

São Paulo, segunda-feira, 2007 .
ENTREVISTA / MARCOS CINTRA


Para o economista, é melhor acabar com outros tributos, como a Cofins, e reduzir encargo sobre folha de salários "Campanha contra a CPMF é reação à alta carga tributária"

O VICE-PRESIDENTE da Fundação Getulio Vargas e colunista da Folha, Marcos Cintra, diz que é melhor eliminar tributos como a Cofins e o adicional de 10% do IR na fonte e reduzir a contribuição sobre a folha de salários do que a acabar com a CPMF. Divulgador do imposto único, ele diz que a idéia de um só tributo não emplacou porque os poderosos das burocracias estatal e privada perderiam.
A seguir, os principais trechos da entrevista concedida na FGV. FOLHA -

Que reformas podem sair neste governo?

MARCOS CINTRA - Para ser bem sincero, acho que não teremos reforma alguma. A reforma política já foi enterrada neste ano. Não se toca nas outras. A única de que se fala é a reforma tributária, mas muito mais como um capítulo, digamos, da prorrogação da CPMF. A reforma tributária está sendo usada como um canal de debate, mas vai desembocar na prorrogação da CPMF [Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira] e da DRU [Desvinculação de Receitas da União]. O cerne da reforma tributária, que era a criação do IVA [imposto sobre valor agregado], a reforma de todos os tributos sobre o consumo, que foi discutida em 2003, foi jogada para 2005 e para 2007. Suspeito que vamos repetir agora o que aconteceu em 2003. Devem ser feitas algumas simplificações pontuais, mas a reforma fundamental, pela falta de consenso, será jogada para 2008, ano de eleições municipais. Daqui a dois, teremos a eleição presidencial, e assim estamos jogando esse problema para a frente. Com isso, a taxa de crescimento fica em 5% e não vai a 6% ou a 7%, que é o que gostaríamos.

Que pontos seriam importantes na reforma tributária?

CINTRA - O Brasil tem hoje uma das cargas tributárias mais altas do mundo, de cerca de 35% do PIB. A sociedade brasileira vê na reforma tributária não apenas uma possibilidade de reduzir a carga mas de melhor distribuí-la, fazendo com que aqueles que hoje pagam muito imposto paguem um pouco menos, e os que estão na informalidade passem a pagar um pouco mais. Minha percepção é que, mesmo que a reforma não reduza a carga tributária em relação ao PIB, ela deve melhorar o padrão de incidência. Significará algum alívio para setores produtivos hoje tributados em excesso.

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